Os princípios biológicos do treino decorrem, como veremos a seguir, dos fenômenos da adaptação e da supercompensação inerentes à aplicação de uma carga de treino.
Princípio da Sobrecarga
O exercício de treino só poderá provocar modificações no organismo dos atletas, melhorando a sua capacidade de desempenho, desde que seja executado numa duração e intensidade suficientes que provoquem uma ativação ótima dos mecanismos energéticos, musculares e mentais.
Implícita na própria noção de “adaptação de treino” está a idéia de que apenas estímulos que perturbem de uma maneira importante o equilíbrio metabólico ou de regulação de uma determinada função serão indutores do processo de reorganização interna conducente ao aparecimento de uma capacidade de resposta superior.
Deste modo, para que haja desenvolvimento de capacidades, o músculo ou o sistema visado, terão que ser solicitados para níveis de atividade não habituais.
Uma carga de treino que procura efeitos máximos de adaptação terá que provocar perturbar o equilíbrio interno de um modo significativo, terá que constituir um fator de “stress” físico relevante.
A ultrapassagem deste limiar criado pelas rotinas de treino será tanto mais difícil quanto mais evoluído for o estado de treino do atleta, daí a procura de cargas mais exigentes, pela sua quantidade, intensidade ou frequência, mas também pela sua especificidade e /ou caráter seletivo.
Assim, por exemplo, se a prescrição do treino da força para um determinado indivíduo é realizar 5 repetições máximas (5 repetições com o máximo de carga possível) e se, na realidade, o peso levantado já não corresponder a essa intensidade, mas possibilitar a realização de, por exemplo, 8 repetições, então os músculos não serão sujeitos a sobrecarga e os efeito do treino não serão os esperados, ou seja, poderá permitir a manutenção de aquisições anteriores, o que é uma estratégia de treino possível, em determinadas circunstâncias, mas falhará o alvo se a intenção for o desenvolvimento da força.
O mesmo se passará com o treino da resistência aeróbia. Para um atleta de fundo, treinar na zona do limiar anaeróbio é condição fundamental para aumentar a sua capacidade de desempenho em nível competitivo.
Se as velocidades de corrida não acompanharem a evolução ocorrida nas adaptações aeróbias e neuromusculares provenientes das semanas anteriores de treino, as cargas tornar-se-ão irrelevantes para o objetivo pré definido.
A noção de sobrecarga implica a adequação das cargas de treino a par e passo com a mutação constante da capacidade máxima do indivíduo, ou seja, leva à organização de uma progressão dos exercícios de treino no que diz respeito às componentes da carga (princípio metodológico da progressão das cargas de treino).
Compreender o princípio da sobrecarga exige levar em consideração o fato do processo de adaptação ao treino incidir e reorientar a dinâmica de renovação contínua das estruturas biológicas. O organismo está em constante deterioração e reparação.
Algumas células, como os eritrócitos, circulam no sangue durante aproximadamente 120 dias, sendo então removidos por macrófagos do sistema retículo-endotelial (ou sistema mononuclear fagocitário). Outras células, como as fibras musculares, têm uma duração longa mas mantêm-se em constante regeneração endógena.
O estímulo de treino provoca danos específicos em alguns tecidos e provoca o desgaste das reservas celulares (substratos energéticos, água, sais minerais, etc.). Quando finalizamos uma sessão de treino e saímos do campo, da pista, ou da piscina, não estamos mais aptos mas mais fracos. O grau de debilidade relativa atingido depende da quantidade e da exigência do exercício.
Após a sessão, no entanto, se for proporcionado um tempo adequado de recuperação, o organismo ajustar-se-á através do processo de supercompensação e preparar-se-á, deste modo, para o próximo estímulo ou conjunto de estímulos.
Existe um nível de carga ótimo, em cada situação, para cada atleta, que será aquele que melhor estimulará o organismo no sentido de obter as adaptações desejadas.
A regra deverá ser de realizar o menor treino possível que permita atingir os objetivos em vista. O treino não é, assim, um fim em si próprio mas um conjunto de procedimentos considerados necessários para elevar a capacidade de desempenho competitivo.
Um nível de carga excessivo é aquele que ultrapassa a capacidade de resposta do atleta nesse momento, implicando níveis muito elevados de fadiga, desmotivação e, muitas vezes, abandono da modalidade.
Níveis de carga fracos não têm provavelmente qualquer efeito. No entanto, por vezes é conveniente aplicar cargas deste tipo como recuperação ativa ou por outras razões.
Existe, no entanto, um nível médio, inferior ao ótimo, que é muito utilizado em treino em tarefas variadas de estabilização das aquisições e do nível de fadiga atingido.
Pode-se dizer que os níveis de carga médio e ótimo, alternam constantemente e constituem a quase totalidade da estimulação de treino.
Fonte:
Platonov, U.V. (1991). La adaptación en el deporte. Barcelona: Ed. Paidotribo.
Verkhoshansky, Y. (2002). Teoría y metodología del entrenamiento deportivo.Barcelona: Ed. Paidotribo.
Matveyev, L. (1986). Fundamentos do treino desportivo. Lisboa: Horizonte.
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